Monday, March 28, 2011

E agora Portugal? Debate "Prós e Contras" da RTP-1, na Reitoria da Universidade de Lisboa, no dia 28 de Março de 2011

Começamos pela apresentação dos intervenientes principais:


Moderadora: Fátima Campos Ferreira, Jornalista.
"Hosting:" Magnífico Reitor da Universidade de Lisboa, Prof. Jorge Nóvoa, acompanhado da Universidade de Lisboa "itself", Centenária Instituição desde há alguns dias.


Continuamos com o texto publicitário sobre o debate, retirado "ipsis verbis" do site da RTP, e  com a lista de participantes.


Encruzilhada política e urgência financeira.
A nação prepara-se para ir a votos sob o signo de austeridade e de desconfiança.
Olhos postos no futuro, a instituição universitária é o garante do desenvolvimento.


Num grande debate que conta com a presença de um conjunto alargado de personalidades:


ANTÓNIO NÓVOA - Reitor da Universidade de Lisboa
ANTÓNIO HESPANHA - Prof. Catedrático Universidade Nova
ANTÓNIO FEIJÓ - Diretor Fac. Letras Universidade de Lisboa
EDUARDO PAZ FERREIRA - Prof. Catedrático Universidade de Lisboa
JOÃO SALGUEIRO - Economista
JOSÉ REIS - Diretor Fac. Economia Universidade de Coimbra
JOSÉ GIL - Filósofo
LÍDIA JORGE - Escritora
MARIA MOTA - Cientista
Pe. TOLENTINO MENDONÇA - Teólogo


Estranho. Nas Universidades agora há Diretores, os "Directores" foram extintos. C'est la vie.


Vi o início do debate, à laia de sobremesa. Estava curioso, devido à pertinácia e actualidade do tema e, além disso, faço parte da Instituição hospedeira. Passada meia hora, deixei de ver e passei apenas a ouvir as diatribes dos sábios.


A Dª Fátima tentava evitar os estragos na audiência do programa causados pelas tiradas académicas estratosféricas (o Prof. João Gil ganhou o Óscar nesta categoria...), entremeando umas buchas, umas piaditas e traduzindo para miúdos (leia-se, citando factos e acontecimentos palpáveis da semana,  que o público viu no telejornal, ou leu no Metro ou no Destak, vagamente relacionados com as abstracções académicas) ideias que a mim me custava a descodificar... 


Ouvi de tudo: alguém a dizer que o consumismo era o grande culpado disto; que ninguém apreciava os políticos, quando havia alguns que tentavam dar o seu melhor e governar isto;  sugestões de algumas personalidades apontando para que a solução do nosso problema tinha de incluir "assim a modos que" uma vertente filosófica, social e etc. e tal (o Dr. João Salgueiro educadamente interveio aqui a lembrar que a questão em causa era essencialmente sobre pilim, e não sobre fumaça!).  Para servir de tempero à conversa, volta e meia lá vinha uma mão-cheia de banalidades, mostrando que alguns dos convidados/as decerto nem sabiam bem ao que vinham.


O Dr. João Salgueiro foi o único convidado com as botas bem calçadas: ele e o Prof. José Reis da Fac. de Economia de Coimbra (mas este com perfil e discurso marcadamente Académicos...) deveriam ser os únicos a saber o que é uma matriz de Leontieff e que o Adam Smith não era o ferreiro do rei Henrique VIII :-) Vários convidados, e a Dª Fátima, mostraram conhecer a nossa História, ao fazer a inevitável comparação da situação actual com a vivida no final da Monarquia e na 1ª República, no início do século XX. Não sei se citaram a célebre tirada do Rei D. Carlos ("Esta choldra é ingovernável!", em que a choldra era Portugal), mas pouco deve ter faltado...


O meu prémio de "Personalidade Mais Interessante" vai inteirinho para o Prof. António Hespanha. Até teve a coragem de afirmar que somos formatados politicamente pelos media, essencialmente pela televisão, pois praticamente todos os comentadores se encontram num espectro limitado (desde a ala esquerda do PS até à ala esquerda do CDS, este último limite já com alguma benevolência...) e, assim, o grande público nunca é exposto a argumentos mais extremistas (dos dois lados) e fica albardado e com uns antolhos políticos... A Dª Fátima fez um sorriso algo amarelo, mas não teve coragem de discordar.


A certa altura, deveres urgentes desligaram-me do espectáculo e, confesso, já não tive energia anímica para me arrastar de novo para a frente da pantalha. O som foi esvanecendo, e  apercebi-me que já tinha começado um filme ou uma série (o Português fora substituído pelo Inglês...) Que terei perdido no final? Talvez uma extrema unção, dedicada a Portugal e executada pelo Pe. Tolentino Mendonça...


Devido à retirada precoce do debate, peço desde já desculpas condicionadas, caso o facto de não ter assistido integralmente ao programa me faça injustiçar alguém (embora só tenha comentado o que vi...)


Uma frase de um dos convidados que me ficou na cabeça, embora decerto tenha sido congeminada originalmente pelo Monsieur de La Palice foi que tínhamos de pensar, e que em Portugal não se pensava o suficiente. Bem visto. (N.H.: na campa do dito ficou gravada a seguinte frase: "Aqui jaz o Sr. de La Palice. Se não estivesse morto ainda estaria vivo"... Sagaz tirada que me faz lembrar uma semelhante, mas contemporânea, da Dª Lili Caneças.)


Seguindo o conselho, quando sosseguei resolvi pensar no que vi e ouvi (embora parcialmente) esta noite. Este exercício intelectual deixou-me estarrecido, literalmente com os cabelos em pé: tentei imaginar como iríamos sair da alhada Nacional em que estamos metidos, se fôssemos liderados pelo  conjunto alargado de personalidades que participou no debate. Concluí que o mais certo era afundarmos ainda mais...


Também concluí que a televisão Estatal deve andar pelas ruas da amargura, pois não conseguiu arrebanhar um conjunto alargado de personalidades que, eu sei lá, tivesse mesmo algumas ideias interessantes e viáveis (ou inviáveis, mas divertidas!) sobre como se poderia começar a puxar o País para fora do buraco onde está enfiado... 


Ainda hoje me lamentei a uma colega sobre o facto de o conhecimento transmitido à já imensa mole de gente que passa pela Universidade não ser cabalmente aproveitado pelo tecido económico (há desemprego, há dificuldade no acesso ao crédito por muitas empresas, a grande maioria das empresas Portuguesas apresenta reduzida base tecnológica,...). Aliás, actualmente muitos dos melhores estudantes vão fazer pós-graduações no estrangeiro, ficando bastantes por lá. É relevante acrescentar que estes estudos são, frequentemente, pagos com bolsas saídas de fundos Portugueses... Tenho sido da opinião de que são as empresas que não dão (ou não têm) condições para absorver, estimular e conservar nos seus quadros os melhores alunos universitários, mas actualmente já me questiono sobre se a Universidade sabe, quer e pode dar a sua contribuição para esse processo, o que só iria enriquecer o tecido produtivo Português.


Epitáfio


Possivelmente o programa irá aparecer em breve nesta página da RTP (já lá está o da semana passada)
http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/pros-contras/?headline=21&visual=6

P.S: ao pesquisar sobre este evento televisivo, já depois de escrever o texto, encontrei uma outra apreciação bloguista do dito cujo:  http://portadaloja.blogspot.com/2011/03/o-discuros-dos-pros.html