À semelhança de muitos Portugueses, o meu interesse na campanha eleitoral para a Presidência da República tem sido quase nulo. Para além dos seis candidatos, dos Partidos Políticos e dos penduras gravitando nos seus séquitos, o Povão, onde orgulhosamente me integro, está um bocado a leste do evento.
Também não é de estranhar: quando a vida do País marcha em velocidade de cruzeiro, a Presidência da República é um "cargo-banana".
Na verdade, o PR tem poderes extraordinários em situações "anormais" ou de crise, bem como o poder de fiscalização e, mesmo, de veto, relativamente às Leis produzidas pelo binómio Parlamento-Governo. A situação mais notória em que estes poderes foram activados correspondeu à varridela que o Presidente Jorge Sampaio deu no Primeiro-Ministro Santana Lopes, abrindo o caminho à "socratização".
Dentro da normalidade, o PR tem que se pôr "assim a modos que em bicos de pés" para que dêem por ele, promovendo umas Presidências Abertas, presidindo a uns Colóquios, e fazendo umas viagens de Estado para emular as viagens marítimas dos nossos exploradores no Renascimento. O Presidente Mário Soares, circa 1994, quando se armou em contra-poder ao PM da altura, Cavaco Silva, foi mais longe na interpretação da figura de contraponto ao Governo: apadrinhou, com mais ou menos evidência, eventos em que o mote era a crítica ao Governo, tais como o o congresso "Portugal Que Futuro?" e os "Estados Gerais" do PS.
Assim, poderá concluir-se que há alguma latitude, e mesmo espaço para alguma criatividade, no desempenho do cargo de Presidente da República. Coisa que não se viu no quinquénio que passou: houve mais parolice que criatividade.
A apreciação dos candidatos a PR que irei fazer é fruto da memória que tenho de alguns deles, mais concretamente do respectivo desempenho político público nas últimas décadas, das notícias sobre a campanha eleitoral veiculadas pelos jornais gratuitos que me distraem as viagens sonolentas nos transportes públicos, e das imagens da campanha que passam nos telejornais tardios, visualizadas entre a ingestão de duas colheradas de sopa ou duas garfadas de bacalhau à Brás. Vale o que vale esta apreciação, mas como não sou comentarista político encartado não me vou preocupar com o eventual enviesamento opinativo.
No entanto, retenha o seguinte facto: por muita maquilhagem que os staffs (quando os há) dos candidatos ponham nas suas imagens física e psíquica, o bicho humano aprendeu a confiar mais nos esgares das caras, nos contorcionismos dos corpos e nos "cheiros" (que a televisão ainda não consegue passar...) para fazer a avaliação das personagens. Basta ver a série "Lie to me" (da qual sou um descarado fã) para perceber o que eu quero dizer (pese embora alguma dramatização exagerada, mas desculpável nas situações mostradas na série)
Eis os rapazes, seriados por ordem alfabética do respectivo apelido. São dois médicos, um professor reformado, um poeta, um operário da construção civil e um electricista. Se quiser saber detalhes oficiais sobre os candidatos, dirija-se a este site e siga os links que lá estão. Tem outras alternativas informativas, decerto: procure com o google.
Manuel Alegre -- Poeta que se tem arrastado pela democracia Portuguesa ao longo dos anos, abatendo umas perdizes e umas lebres nos entretantos e nos dias de caça. Aparece sempre em simultãneo com as cheias em Águeda, onde possui uma residência. Ora alinha com a ortodoxia do PS, ora desalinha, isto é, possivelmente não se pode confiar muito nele. Estão-lhe associadas umas pícaras e antigas memórias de amores no Parlamento -- quais amores de Pedro e Inês.
Teve um bom resultado (quase 21%) nas últimas eleições à Presidência de 2005, mas não usou, ou soube usar, esse gatilho político para se alcandorar a patamares de visibilidade mais elevados. Os factos ligados à sua estadia na Argélia como asilado/exilado poliítico, antes do 25 de Abril, estão um pouco envoltos em nevoeiro (veja a bibliografia no link supracitado).
José Manuel Coelho -- Figura madeirense que quer ser reconhecida a nível nacional. E até merece, agora que os Gatos Fedorentos estão no defeso. É o tipo com mais piada da campanha, não tem staff, não preenche muitos dos tempos de antena a que tem direito, anda a fazer campanha no continente no táxi de um amigo que o passeia a troco da gasolina. Um castiço!
Se for eleito presidente, decerto vai abdicar de todas as mordomias no palácio de Belém: corre com os motoristas e aniquila a frota de carros oficiais da Presidência, passando a usar o táxi do amigo para as deslocações e o amigo como único assessor e, simultaneamente, motorista. Não vão faltar bananas (da Madeira) na Presidência: nunca o epíteto de "cargo-banana" estará tão correctamente atribuído como nesta (hipotética) situação de Presidência.
É um dos dois proletas deste naipe de seis candidatos em 2011, visto ostentar a profissão de operário da construção civil. Finalmente, parece que o JMC é coleccionador de bandeiras: no Parlamento Regional da Madeira, onde assenta arraiais, já uma vez andou a passear uma bandeira nazi. Mas foi para a oferecer ao líder parlamentar que, porém, não aceitou a prenda.
Francisco Lopes -- Sempre que há umas eleições para PR, o PCP vai ao seu arquivo de clones (estou-me a lembrar daquelas incubadoras nos filmes Matrix ou Minority Report) desencantar e desenrolar mais uma trouxa empalhada.
Desta vez a sorte calhou ao electricista Sr. Lopes. A sua campanha é assim "a modos que" mais um pretexto para ouvirmos quase todos os dias o camarada Jerónimo Sousa a declamar a cassette, nos almoços e jantares em que acompanha o seu candidato (que devem ser praticamente todos os almoços e jantares da campanha). Até parece que o camarada Jerónimo é o candidato. Porque é que não foi mesmo ele, outra vez, como em 2006? Porque a política do PCP é ir rodando os clones à vez? É hora de mudar, rapaziada...
Ou, por outro lado, o Jerónimo vai fazendo uma marcação cerrada ao Francisco, não vá este aventurar-se a ter ideias próprias e, eu sei lá, vir a querer disputar a liderança do PCP com o Jerónimo. Eleições no PCP, com dois ou mais candidatos? Only in your dreams, sucker...
Defensor Moura -- Ex-Presidente da Câmara de Viana do Castelo. Estranho nome próprio: os pais disseram-lhe indirectamente, logo à nascença, que devia era jogar à defesa. Pelos vistos não segue o conselho, pois no debate com o candidato Cavaco Silva confrontou-o como os gastos desmesurados que quer a Presidência da República, quer a Câmara de Viana (pressionada pela Presidência), tiveram com as celebrações do 10 de Junho de 2008, dia de Portugal. Ao que o candidato Cavaco Silva respondeu com não respostas, isto é, engoliu em seco e ficou a ouvir os murros. Grande Defensor, que passaste ao ataque!
O Dr. Defensor Moura é médico, o que nos leva a pensar que até estes profissionais já terão algumas dificuldades em encontrar emprego (pois Fernando Nobre também é médico...). Os candidatos médicos provavelmente só aparecem nesta corrida porque o candidato oficial do PS, Manuel Alegre, virtualmente não é um candidato do PS.
Fernando Nobre -- Farto de ver desgraças no estrangeiro, ao serviço da AMI que fundou, resolveu passar às desgraças políticas em Portugal. Aparece nas imagens televisivas com o ar muito parecido ao de um médico (que o é) quando está a dar uma descasca, durante uma consulta, porque andamos a fumar muito, a abusar das sandes de coirato e das imperiais, e não tomamos as pílulas para a tensão arterial e para o colesterol! Assim não vai lá Sr. Dr., tem de ser mais simpático para a audiência.
O seu modelo de Presidência, decantado da grande experiência que tem na prática da Medicina no 3º mundo, poderá ser, porventura, um plano de vacinação geral e gratuito de Xanax para todos os Portugueses, mas em tamanha quantidade que a gente só irá acordar daqui a dez ou vinte anos quando alguém (a Sra. Merkel?) entretanto tiver pago a dívida soberana de Portugal (é soberana porque está a mandar em nós, a desgraçada... até já tenho pesadelos com ela).
Conselho ao Nobre candidato: menos política e mais bisturi (o peso do eventual apoio do Ex-Presidente Mário Soares já não é o que era).
Aníbal Cavaco Silva -- O candidato Cavaco Silva é um velho conhecido dos Portugueses e um emérito professor reformado. Ele até deve ser boa pessoa, mas parece que tem um calcanhar de Aquiles: não é lá muito bom a escolher os amigos. Aí é que ele precisava de assessores capazes (pelos vistos a família próxima não o tem ajudado muito): antes de fazer os amigos, colocava-lhes uma escutazita electrónica durante um par de semanas para se certificar de que eram bonzinhos.
Nos Governos em que foi Primeiro-Ministro, nas saudosas décadas de 80 e 90, teve que resolver uns pincéis ligados a membros do Governo: o irmão da Ministra Leonor Beleza, um Secretário de Estado da mesma -- Costa Freire, os perdões fiscais do Secretário de Estado Oliveira e Costa, as permutas de andares nas Amoreiras do ministro Cadilhe... Ou seja, também na entourage lhe saem "alguns duques", como soi dizer-se.
O seu maior problema, agora, que lhe deve dar uma boa dose de pesadelos nocturnos, é de índole ornitológica: se pudesse acabava já com as gaivotas, essas vis ratazanas voadoras... e, bem vistas as coisas, é um problema que lá no fundo tem a ver com amigos...
Em quem votar, então? Caro leitor, se chegou até aqui, vai ficar decepcionado com isto: não lhe dou nenhuma sugestão. Porquê? Porque como não vou estar em Lisboa no próximo Domingo, dia 23 de Janeiro, não preciso de escolher em quem voto ou, mesmo, de decidir se vou votar. Já tenho o meu problema resolvido.
Mas é provável que você não tenha: ponha essa cabecinha a funcionar e decida lá onde vai pôr a cruzinha no boletim.
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